Diante da realidade, às transportadoras não restou outra coisa senão lutar para se adaptar à nova realidade. E como fizeram isso? Reduzindo custos, cedendo a exigências e barateando o frete. Tais “soluções”, contudo, trouxeram consequências, pois algumas empresas enfrentaram sérias dificuldades para atender à maior demanda proporcionada pela relativa melhora do mercado no segundo semestre de 2017.
Pesquisa nacional realizada em janeiro deste ano pela NTC&Logística (Associação Nacional do Transporte de Cargas e Logística) em conjunto com a ANTT (Agência Nacional de Transportes Terrestres) mostra como foi o desempenho das transportadoras em 2017: 62% tiveram queda no faturamento; 58,1% tiveram prejuízo sobre o faturamento; 47,6% das empresas diminuíram de tamanho; e 52,4% afirmam estar recebendo frete com atraso. Ainda de acordo com o estudo, os fatores que mais contribuíram com essa situação foram os aumentos dos custos, em especial, o do combustível – 9,44% nos postos e 12,49% nas distribuidoras.
E nem a pequena recuperação do frete que marcou o ano passado foi suficiente para recompor a defasagem acumulada. Prova disso que a pesquisa indica 13,95% de defasagem no transporte de cargas fracionadas e 20,60% na carga lotação.
E explicar como chegamos a esses números não é difícil. Basta levar em conta que nos últimos anos tivemos de enfrentar, não apenas a defasagem do frete, mas a própria falta de fretes. Afinal, se a indústria não produzia e o comércio não vendia, o que iríamos transportar?
Não é preciso entender muito de transporte para saber que o frete é nosso calcanhar de Aquiles. Mas não convivemos apenas com esse problema. Muitos usuários ainda não remuneram adequadamente o transportador com relação a situações anormais e aos serviços adicionais não contemplados nas tarifas padrões, como entregas em regiões de alto risco, tempo de espera para carga e descarga, coletas e entregas em áreas com restrições, planos de gerenciamento de risco customizados. Isso sem falar no que temos gastado para driblar a insegurança gerada pelo aumento das ocorrências de roubos de cargas. São custos muitas vezes superiores ao próprio frete.
Passados quatro anos de sufoco, estamos vislumbrando um aumento de demanda que pode ultrapassar os dois dígitos. O mercado volta a respirar, as movimentações financeiras vão ganhando corpo. É, portanto, chegada a hora de fazermos nossa parte. No entanto, só teremos força para reagir se cada transportador fizer seu dever de casa, refizer contas, adequar sua remuneração aos desafios que estão por vir e encontrar, junto aos contratantes, o equilíbrio comercial necessário para viabilizar suas operações. Se não for assim, nadaremos e morreremos na praia.
Liemar Pretti é empresário do segmento de cargas e presidente do Transcares (Sindicato das Empresas de Cargas e Logística no Estado do Espírito Santo)